segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Sete Vidas

Sete Vidas (Seven Pounds) concretiza o mais novo trabalho entre Will Smith e o diretor Gabriele Muccino, e prova que versátil é a palavra certa ao ator por compor este drama. Quando se vai ao cinema para ver Smith, queiram ou não, é criada uma expectativa, ainda mais quando trata-se da parceria dele com o diretor de À Procura da Felicidade. Pois bem, preparem os lenços porque o chororo vai rolar solto.

O longa abre com Smith ao telefone chorando relatando um suicídio. A tela muda e vemos os acontecimentos anteriores, que é o conhecer dos personagens a quem presta auxílio. Por duas horas vemos o enigmático Ben Thomas engendrar na vida de sete estranhos sem pedir nada em troca. Não se sabe o que ele pretende, mas algo em seu passado o força a querer mudar drasticamente a vida destes desconhecidos cuidadosamente escolhidos por Thomas. Por trabalhar na Receita Federal traça padrões e encontra facilmente aqueles que escolhe.
Gabriele usa de recursos como closes bem fechados nos rostos, o uso de desfoque e até mesmo a baixa profundidade de campo na interação entre o personagem principal com as pessoas. Thomas que apesar de muitas vezes depressivo e recluso, é todo sorriso e bobo como uma criança inocente ao conversar. De fala mansa e jeito próprio que faz surgir o interesse de Emily (Rosario Dawson) portadora de uma doença cardíaca, também uma de suas escolhidas. Aos poucos ao vermos os dois que há aquela edificação emocional. Outro destaque, mesmo que breve, é de Woody Harrelson que interpreta Ezra Turner, um deficiente visual.

Ao montar o quebra cabeças no decorrer da histórias com os rápidos flashbacks do atormentado personagem principal, e claro ao direcionamento que a história dá mais ao final, que percebe-se qual era o grande segredo de Ben Thomas. Daí fica esclarecida a obviedade do plano dele e do motivo de fazê-lo. Alguns podem dizer que por causa disso é uma história de desfecho fraco, que poderia ser melhor roteirizado, talvez para outros uma verdadeira lição de vida. Mesmo assim, isso não a descaracteriza de ser uma boa história, com atuações competentes.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Um Beijo Roubado

O diretor e co-roteirista do filme Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights), Wong Kar Wai, traz ao público um filme singelo e bem focado na personagem Elizabeth, vivida pela cantora Norah Jones. A idéia do filme surgiu de um curta metragem do mesmo diretor sobre um homem e uma mulher dentro de um bar, mas neste longa algumas pequenas diferenças, como a viagem da personagem principal em busca de auto-conhecimento. Uma curiosidade é que o filme não tinha roteiro!

Elizabeth
Uma jovem que passa a frequentar a confeitaria/bar de Jeremy (Jude Law de Um Jogo de Vida Ou Morte). O local é uma espécie de simbolo que serve de estabilidade durante o rompimento da personagem de Jones com um ex-namorado. Certa noite ao conversar com Jeremy pergunta o motivo das tortas buleberry ficarem todas as noites intactas. A torta é descartada toda noite e ela se sente da mesma forma por seu relacionamento não ter dado certo. Esse é o motivo de ter dois empregos, um a luz do dia e outro de noite, para parar de pensar em seu antigo amor, além é claro para economizar e comprar um carro. Noite após noites no decorrer das conversas com Jeremy, se entope de tortas.

Jeremy
Dono da confeitaria sempre sorridente. É uma espécie de mantenedor de histórias alheias. Em seu estabelecimento há um pote de chaves perdidas ou acumuladas durante anos. Tudo acontece até de forma simples. As pessoas passam e as deixam para que outras as peguem e geralmente o fazem por estarem em momento de raiva ou rompimento. Para Elizabeth especificamente foi os dois. Por isso, Jeremy é um colecionador de promessas e sonhos despedaçados, e não as joga fora por achar que não está no direito de fazê-lo. Segundo ele, o significado de uma chave é abrir uma porta e não cabe a ele quais portas devem permanecer fechadas.

A viagem
Ela não sabe para onde ir, apenas sabe que tem de partir. Para isso em uma busca de auto-conhecimento a personagem de Jones acaba parando em Memphis, no estado do Tennessee, lar do blues, e posteriormente em Vegas.É nesta viagem que compartilha de histórias. Uma verdadeira troca de experiências, como a do policial Arnie, encarnado pelo ator David Strathairn que foi indicado ao Oscar de melhor ator por Boa Noite Boa Sorte. Ele é um policial alcóolatra com uma paixão obsessiva pela ex-mulher Sue Lynne (Rachel Weisz, ganhadora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em O Jardineiro Fiel).


Natalie Portman dá o ar da graça com um sotaque texano característico. Ela interpreta Leslie, uma jogadora de cartas sexy, manipuladora e incrédula. O destino dela e de Elizabeth se junta uma noite em Vegas, nascendo daí uma amizade verdadeira, embora ambas sejam opostas. Aqui mais espaços para dramas pessoas, agora vindo de Leslie e seu passado com o pai.


Wong Kar Wai, o diretor
O diretor de Amor À Flor da Pele e 2046 filma tudo de forma cuidadosa. Em certos momentos o faz através de superfícies transparentes, pelas vitrines de bares, frestas ou espaços entre objetos quase como se o espectador fosse alguém vendo e ouvindo tudo escondido. Contém também uma bela fotografia, iluminando os personagens com as cores de bar ou luz ambiente. O aspecto visual é bem forte e é tudo muito fluido, bem brando. Lembrando que quando o diretor iniciou as filmagens tinha apenas a idéia básica da história, mas não havia um roteiro definido.

Ah sim, para os marmanjos de plantão as três, Jones, Weisz e Portman, estão belíssimas. O visual do longa se completa a trilha sonora, contendo a própria protagonista Norah Jones, Cat Power, Ry Cooder, Otis Redding, entre outros.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Onde Os Fracos Não Têm Vez

Baseado na obra literária do ganhador do prêmio Pulitzer de mesmo nome, Cormac McCarthy, No Country For Old Man (Onde Os Fracos Não Têm Vez) é a adaptação dos irmãos Coen aos cinemas. O filme é o mais violento da dupla e traz atuações que deixam a quem assiste embasbacado.

Logo de cara, na cena de abertura vemos um policial rendendo um carro no meio da estrada do oeste Texano no verão de 1980. Na delegacia de polícia damos conta de que o homem preso é Javier Bardem de Mar Aberto (Anton Chigurh) que estrangula o mesmo policial que o prende com as algemas até a pele do pescoço dilacerar, com sangue para todo o chão. A cena mais violenta de todo o longa metragem, o que nos dá o tom de como será a história. Ao fim as marcas da bota da vítima marcadas ao mesmo chão.

Depois, é a vez de Llwelyn Moss ser apresentado (Josh Brolin). Um homem ordinário da região texana e ex-combatente da guerra do Vietnam com chapéu de palha. Está em meio ao deserto caçando e de repente se depara com uma cena de crime – uma transação de drogas mal sucedida - com corpos espalhados ao chão. Acha uma maleta com a quantia de dois milhões de Dólares. Sem dinheiro, morando num trailer e casado, não resiste e a carrega a maleta para si. Mas sabe que será caçado por quem quer que seja, pois por uma quantia dessas sempre tem alguém por ai para fazer perguntas.

Por último o xerife Bell (Tommy Lee Jones). Homem esperto, virtuoso, da terceira geração da família a ser policial que toma conta da cidade. Analisa o crime e seus envolvidos por meio de dedução lógica e corpos ao longo do desenrolar da trama da história.

Os diálogos são singelos, contudo de uma profundidade interessante. Como Anton em um posto de estrada que nem Sócrates fazendo perguntas tolas, mas bem elaboradas uma atrás da outra confundindo o dono do estabelecimento. Seus diálogos são secos, indiferentes, insistentes, manipuladores e arrogantes. Não há senso de humor algum e o corte de cabelo ao estilo príncipe Adam (!) é ridículo e ainda assim muito próprio da personagem, porém mais gritante que isso é a frieza em matar sem nem pestanejar.

É quando surge aquele tom de voz e sabemos que algo de ruim poderá acontecer. “Qual foi o máximo que já perdeu no Cara ou Coroa?” pergunta ao velho dono do posto. Num lançar de moeda ao ar fica claro que o destino da vítima será decidido ali. A moeda cai e sua mão a tapa no balcão. A atuação de Bardem é peculiar. Ele encontrou um jeito de desenvolver a personalidade do personagem e nada se sabe sobre a procedência dele. A única menção feita sobre o mesmo no livro é que não há senso de humor.

Então, vemos a interação, ou não interação dos três homens. Moss fugindo com a grana, Anton perseguindo-o e Bell atrás dos dois querendo solucionar tudo. É bem verdade que tudo gira em torno do dinheiro, mas o desenrolar dos fatos, a ação, tiroteio, a típica e bem feita caça gato-e-rato e o jeito como filmam são um prato cheio. A dupla não economiza em mostrar as mortes e ferimentos. É tudo muito cru, direto, sem nada que nos prepare para o que virá.

Não foi à toa que Javier Bardem ganhou a estatueta de ouro como melhor ator coadjuvante, e que Joel e Ethan Coen foram premiados com a melhor direção, e foi a primeira vez que uma dupla de diretores leva o prêmio. Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado também estão inclusos na lista. Aqui fica esta dica para você que quer uma boa opção para entretenimento.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

The Cosmos Rock

Treze anos após o Made in Heaven, Queen, uma das melhores bandas de todos os tempos retorna ao lado de Paul Rodgers – ex Free e Bad Company – nos vocais. Ok, a resposta que todos já sabem. “O Queen não é o mesmo sem Mercury!”. Mas ouça o novo trabalho The Cosmos Rock. Roger Taylor e Brian May, baterista e guitarrista da banda, são os remanescentes que compuseram o novo trabalho juntamente com Rodgers. Não se sabe o motivo real de John Deacon, baixista, estar de fora da nova empreitada, mas ele foi homenageado assim como Fred neste álbum.

O compacto traz boas faixas, algumas dançantes com influências claras de blues, country e hard rock. A primeira é Cosmos Rockin’. O som é embalado pela guitarra de May e palmas. O vocal de Rodgers realmente não deixa a desejar e Mercury via neste cantor um ídolo.

A segunda, Time to Shine, é marcada por um vocal melódico no refrão. Still Burnin’ é a terceira e segue sem muito destaque, assim como War Boys que é a quinta faixa. Small é bem emotiva, refrões e backing vocals que trazem maior valor a canção. We Believe é interessante e traz novamente aqueles riffs característicos de May. Uma canção bem construída, de mensagem positiva, emotiva e edificante.

Call Me é bem country não só pela forma como cantada, mas pelo instrumental. Esta é uma daquelas de se fazer coreografia num salão, com mão no chapéu e outro na fivela ou batendo as mãos e pés no chão como nos filmes americanos. Canção curta, fácil de se cantar que fica na cabeça para não sair mais. Em seguida, Voodoo. Bem blues que fala sobre amor de ritmo bem sensual. Dá vontade de ouvir no carro em uma viagem. Rodgers manda bem com entonações baixas, em certos momentos uns agudos, mas sem exageros.

Some Things That Glitter é mais uma bem emocional de belos arranjos, acompanhada do piano, guitarra e vocal. C-elebrity tem chances de ser uma de maior destaque pela pegada um tanto enérgica e vocal mais poderoso. Por falar em vocal, Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighrters é quem canta. Segue Through The Night, melodia sobre raiva, amor e solidão.

Say It’s Not True. Nesta mais do que nas outras o riff de guitarra inegável do Queen e uma das mais belas do álbum, sem dúvida. É parte da campanha 46664 HIV/Aids, de Nelson Mandela. Surf’s Up... School’s Out! é sobre diversão pura, perfeita para fazer parte de trilhas sonoras de filmes adolescentes oitentistas como Clube dos Cinco ou Curtindo a Vida Adoidado. Encerrando o álbum, Small (Reprise).

The Cosmos Rock tem ritmo e energia. É Rock ‘n’ Roll! Vai fazer muita gente levantar e dançar, bater os pés e cantar. Fiquem atentos ao estilo vocal de Paul Rodgers, contudo, um aviso aqueles que nunca ouviram a banda Queen: Não espere encontrar lá um substituto para Fred Mercury, já que isso nunca existirá! Ouça a formação original nos seus melhores trabalhos para ter a noção da grandeza destes músicos. Depois, escute The Cosmos Rock. Não desmerecendo o novo trabalho, mas há uma clara diferença.