sábado, 27 de setembro de 2008

Controle Absoluto

A Dreamworks, estúdio de Steven Spielberg, e o diretor D.J. Caruso acertam de novo ao trazerem Controle Absoluto (Eagle Eye), que em essência é como Inimigo do Estado, que foi estrelado por Will Smith, justamente por tratar da questão do panoptismo de Michel Foucalt. Só que este filme vai muito além. A América vive em um estado de sítio nos setores de telecomunicações e todo tipo de comunicação é monitorado pelo governo, até mesmo os telefones celulares quando desligados. Uma verdadeira paranóia ou medida cautelar?

Tudo começa no Oriente Médio quando o Pentágono está à caça de Majid Al Kohei que está aparentemente em um funeral. Michael Chiklis (O Coisa de Quarteto Fantástico e da série The Shield) interpreta o secretário Callister que, contra a própria vontade, recebe ordem direta do presidente dos Estados Unidos para executar um plano de ataque no local em que está o terrorista. No ponto de vista patriótico a ação se justifica para salvaguardar a vida de inocentes, mas o ato na verdade não passa de uma forma de extermínio, de terrorismo, vindo a mando do chefe maior da terra do Tio Sam.

A tela muda e vemos Jerry Shaw (Shia Labeouf) em um simples jogo de carta num quartinho dos fundos da Copy Cabana (ê trocadilho besta), local em que trabalha com uns amigos. Com um jeito um tanto desleixado, contudo manipulador, blefa para ganhar uma grana e finalmente poder pagar para senhoria o aluguel sempre atrasado. Se com o diretor D.J. Caruso em Paranóia a idéia era de mostrar o garoto cheio de problemas, então neste novo longa o que importa é de apresentar um jovem adulto (de barba por fazer para talvez tentar não remeter mais Shia a um garoto, e sim como homem) com problemas ainda maiores, multiplicados a extraordinários níveis. Jerry é o cara desgarrado da família. Sentia-se um estanho no próprio lar e fugiu da escola, e não agüentava mais ser comparado ao irmão, um oficial da Marinha que trazia orgulho aos pais. Para sobreviver fazia alguns trabalhos, viajando a lugares como Singapura, Indonésia, etc. Mas após pagar a velha senhoria recebe um telefonema que o desnorteia, a morte do irmão gêmeo Ethan. Caruso pincela sobre o drama particular do rapaz quando discute com o pai (William Sadler) após o enterro do irmão.

A segunda protagonista é Michelle Monaghan (de Missão Imposível III), Rachel Holloman, mãe divorciada que ama o filho Sam acima de tudo e acaba de embarcar a sua cria num trem para Washington, já que o garotinho é um instrumentista que tocará para o presidente, juntamente com o grupo em que estuda música. Evidente é o problema de Rachel com o ex-marido, e nem mesmo o dá a chance de explicar o motivo do atraso dele em deixar o filho na estação.

Quando Shaw chega em casa e vê um pesado armamento em seu apartamento recebe um estranho telefonema não identificado dando-lhe coordenadas de fuga. Não obedece e é preso em seguida pelos federais. É interrogado por Tom Morgan (Billy Bob Thorton), chefe de uma divisão antiterrorista sob suspeita de terrorismo. Após uma série de perguntas o telefone toca novamente e foge recebendo ordens diretas para entrar num porsche preto, em um devido local e hora. Já para Rachel na mesma noite com amigas, recebe o mesmo comando e não obedecendo, o filho que viajava no trem sofreria um acidente por descarrilamento. Dentro do porsche é que o destino dos dois protagonistas se cruza. A perseguição de carros entre o F.B.I. e o porsche é cheia de ação. Vemos a manipulação do tráfego a favor dos personagens principais para a facilitação da fuga, e durante a cena perguntam-se quem é o responsável por aquilo ser possível.

Para engrossar o caldeirão em meio a tanta conspiração, Zoe Perez (Rosário Dawson) investigando o passado de Ethan Shaw, co-atuando ao lado de Thorton. O desenrolar dos acontecimentos é bem feito e mantém a atenção do espectador. Não há somente correria, explosões e tiros, existe um aqui espaço para pensar nos acontecimentos e entendê-los, como o encaixe da introdução do filme sobre o ataque em solo do Oriente Médio com o destino dos personagens, o destacar da tecnologia não como vilã, mas como meio poderosíssimo que tanto pode nos ferir quanto nos auxiliar, e, novamente é introduzido o drama pessoal. A exemplo, quando Rachel se abre e conta do filho e ex-marido para Jerry entre uma ação suicida e outra.

Com uma certa dose de patriotismo norte-americano em tempos de terrorismo, e além de destaques as tantas formas de controle, de docilizar, punir, de ação corretiva e teorias conspiratórias, é de se divagar: Para onde vai a nossa privacidade e segredos? Mas não se torture tanto pois o que acontece aqui é coisa de filme, não é?